Já disse algumas
vezes que, não tendo pesado nem um pouco na minha decisão de não ter filhos,
fui vivenciando algumas coisas ao longo dos anos que me fizeram pensar que, se
o Universo quisesse convencer-me a ser mãe, então rodeou-me das pessoas
erradas.
Sei que não sou
caso único e alguns destes episódios causaram espanto em algumas pessoas, incluindo mães. Já
que o primeiro post deste blog tenta desencorajar o julgamento, vou tentar
manter essa postura em sentido inverso. Talvez assim consiga entender uma forma de pensar diferente da minha.
Sou madrinha de
dois rapazes maravilhosos.
Um deles, assim
como a irmã mais velha, passava invernos consecutivos doente, constipado,
engripado, com tosse e febre recorrentes. As indumentárias quentes que eu e o
padrinho lhe oferecíamos duravam um tempo bastante limitado, dada a tenra idade
da criança. A avó, preocupada, mencionava e perguntava coisas a medo, não fosse
a mãe suprema irritar-se e desatar a partir a loiça toda.
Explicava a mãe
que ele se descobria durante a noite, e que ela não ia lá. Não sei precisar se
o silêncio que se seguiu foi cómico, desconfortável ou ambos. Para a avó da
criança, que cravou os olhos em mim com medo do julgamento, foi desconfortável
com certeza. Escusado será dizer que nunca comprei esta guerra. Esta família não era a minha, o problema não
era meu.
O apartamento
onde mora este meu afilhado, recheado na perfeição para que possa ser
devidamente mostrado, não tinha aquecimento. Isto era a causa óbvia do mal
estar dos miúdos. Após um reparo corajoso da sua filha mais nova, a avó da
criança lembrou-se de mencionar que existia um aquecedor ali que estava parado
e que a filha mais velha poderia levar para deixar ligado no quarto do miúdo e
pelo menos mantê-lo quente. A resposta pronta, disparada sem pensar deixou
(desta vez sim!) um silêncio desconfortável:
- E será que o aquecedor gasta muito?
Hoje em dia,
este episódio tragicómico traz-me um sorriso aos lábios. O pânico nos olhos da
avó, o silêncio interrompido pelo balbuciar medroso do acho que não, mas se é para eles não estarem doentes...
Isto sim, faz
parte das coisas que não entendo. Talvez faça falta contextualizar um pouco a
situação. Estamos a falar de alguém cuja identidade está totalmente projectada na maternidade. Incluindo o tal apregoar
do espírito de abnegação e sacrifício que ser mãe exige, e que só algumas
conseguem. Estamos a falar de um casal com empregos estáveis, que não pestaneja
perante a compra de bens materiais supérfluos, com custos avultados, mas hesita perante a possibilidade providenciar maior conforto aos seus filhos
para evitar que fiquem doentes.
Aqui podia voltar ao primeiro post deste blog: é uma opção, e cada uma tem as suas. Cada uma é feliz à sua maneira.
Só que a minha
opção... não põe em causa a saúde de ninguém.
Viram? Num instante estou a justificar-me, a julgar e a pedir justificações. É tramado, não é?
Viram? Num instante estou a justificar-me, a julgar e a pedir justificações. É tramado, não é?
Ajudem-me aqui a perceber esta coisa que não entendo: vocês conhecem alguém assim? Vocês próprios são alguém assim? Que motivações conhecem?