tag:blogger.com,1999:blog-53855951707367765082024-02-08T20:00:46.428+00:00Fumo do meu cigarroUm espaço de opinião pessoal sobre a vida sem filhos, por opçãoGerberahttp://www.blogger.com/profile/03267665289786050978noreply@blogger.comBlogger4125tag:blogger.com,1999:blog-5385595170736776508.post-67648453255289578962016-04-27T21:59:00.000+01:002016-04-27T21:59:08.999+01:00Coisas que não entendo I<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Já disse algumas
vezes que, não tendo pesado nem um pouco na minha decisão de não ter filhos,
fui vivenciando algumas coisas ao longo dos anos que me fizeram pensar que, se
o Universo quisesse convencer-me a ser mãe, então rodeou-me das pessoas
erradas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Sei que não sou
caso único e alguns destes episódios causaram espanto em algumas pessoas, incluindo mães. Já
que o primeiro post deste blog tenta desencorajar o julgamento, vou tentar
manter essa postura em sentido inverso. Talvez assim consiga entender uma forma de pensar diferente da minha.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Sou madrinha de
dois rapazes maravilhosos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Um deles, assim
como a irmã mais velha, passava invernos consecutivos doente, constipado,
engripado, com tosse e febre recorrentes. As indumentárias quentes que eu e o
padrinho lhe oferecíamos duravam um tempo bastante limitado, dada a tenra idade
da criança. A avó, preocupada, mencionava e perguntava coisas a medo, não fosse
a mãe suprema irritar-se e desatar a partir a loiça toda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Explicava a mãe
que ele se descobria durante a noite, e que ela não ia lá. Não sei precisar se
o silêncio que se seguiu foi cómico, desconfortável ou ambos. Para a avó da
criança, que cravou os olhos em mim com medo do julgamento, foi desconfortável
com certeza. Escusado será dizer que nunca comprei esta guerra. Esta família não era a minha, o problema não
era meu.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O apartamento
onde mora este meu afilhado, recheado na perfeição para que possa ser
devidamente mostrado, não tinha aquecimento. Isto era a causa óbvia do mal
estar dos miúdos. Após um reparo corajoso da sua filha mais nova, a avó da
criança lembrou-se de mencionar que existia um aquecedor ali que estava parado
e que a filha mais velha poderia levar para deixar ligado no quarto do miúdo e
pelo menos mantê-lo quente. A resposta pronta, disparada sem pensar deixou
(desta vez sim!) um silêncio desconfortável:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">- <i>E será que o aquecedor gasta muito?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Hoje em dia,
este episódio tragicómico traz-me um sorriso aos lábios. O pânico nos olhos da
avó, o silêncio interrompido pelo balbuciar medroso do <i>acho que não, mas se é para eles não estarem doentes... <o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Isto sim, faz
parte das coisas que não entendo. Talvez faça falta contextualizar um pouco a
situação. Estamos a falar de alguém cuja identidade está totalmente projectada na maternidade. Incluindo o tal apregoar
do espírito de abnegação e sacrifício que ser mãe exige, e que só algumas
conseguem. Estamos a falar de um casal com empregos estáveis, que não pestaneja
perante a compra de bens materiais supérfluos, com custos avultados, mas hesita perante a possibilidade providenciar maior conforto aos seus filhos
para evitar que fiquem doentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Aqui podia voltar ao primeiro post deste blog: é uma opção, e cada uma tem as suas. Cada uma é feliz à sua maneira.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Só que a minha
opção... não põe em causa a saúde de ninguém. </span><br />
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Viram? Num instante estou a
justificar-me, a julgar e a pedir justificações. É tramado, não é?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Ajudem-me aqui a perceber esta coisa que não entendo: vocês conhecem alguém assim? Vocês próprios são alguém assim? Que motivações conhecem?</span></div>
Gerberahttp://www.blogger.com/profile/03267665289786050978noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5385595170736776508.post-68577590149946894322016-04-22T15:03:00.000+01:002016-04-22T16:45:34.561+01:00O maior amor do mundo<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">É o maior amor do mundo, é um sentimento inexplicável...</span></i><span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"> Já devem ter ouvido e lido isto
muitas vezes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Parece-me ser do
entendimento geral que os sentimentos são difíceis de medir. Esta afirmação
pressupõe que não há amor maior do que aquele sentido por um filho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">E acredito que
assim seja, para quem os tem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Estarão então os
restantes condenados a nunca experimentar o <i>maior
amor do mundo</i>?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Também acho que
não.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Entendo que o
que falta nesta afirmação muito generalizada é a reflexão do universo pessoal. Ou
seja, a demonstração de que se trata do maior amor do mundo, para ti. Na tua
esfera pessoal. No teu mundo. E a noção de que cada um de nós vive em
realidades diferentes, particulares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Quem já escalou o
Evereste pode dizer que chegar ao topo é o melhor sentimento do mundo. Para
mim, que detesto neve, frio e desconforto, dificilmente seria a melhor sensação
do mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Pode então uma
mãe dizer-me que o amor que sente pelo seu filho é maior do que amor que sinto
pelos meus pais? Poder, pode, mas não acredito no amor enquanto coisa
mensurável e sujeita a comparações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O amor que sentes pelo teu
filho é o maior amor do mundo, para ti. Nenhum dos outros amores sentidos por
todas as outras pessoas deste mundo é menor ou tem menos valor por isso.<o:p></o:p></span></div>
Gerberahttp://www.blogger.com/profile/03267665289786050978noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5385595170736776508.post-87222989178174238272016-04-16T17:08:00.000+01:002016-04-16T17:11:07.097+01:00Do respeito em espaços públicos ou o direito ao sossego<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Sábado de manhã.
Aquele momento maravilhoso em que, se não tivermos de trabalhar, podemos fazer
o que bem entendermos: dormir, ir ao ginásio, às compras, arrumar, tomar o
pequeno almoço fora, fazer tudo isto ou pura e simplesmente não fazer nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Há sempre uma
pastelaria por perto onde quer que moremos. Para mim esse lugar ficava perto da
casa dos meus pais, numa zona onde também morei até há bem pouco tempo. Foram
anos de pequenos almoços deliciosos, com uma vista fantástica sobre a vila, banhados
pela luz quente do sol que entrava pelas janelas de vidro numa abundância quase
obscena, de tão agradável. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Até que o
Vicente nasceu. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O Vicente nasceu
e era um bebé adorável. Calmo, tranquilo, engraçado. A mãe, orgulhosa, adorava
mostrar a toda a gente o resultado da sua lotaria genética. Alimentava-se dos
elogios rasgados à sua criança. Os anos
passaram e o Vicente começou a falar, começou a andar. E depois veio a irmã do Vicente. E as horas de calmaria
com o galão directo e a torrada perfeita a acompanhar as revistas de referência
foram substituídas por horas infindáveis de barulho, pontapés na mesa, cadeiras
a balouçar, repetições infinitas de “anda cá!” “não faças isso!” “está quieto!”
“ó mãnheeee, eu quero aquiiiiilo...” que cansam até quem está no outro lado do
estabelecimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">No rescaldo das
suas visitas à pastelaria, esta família deixa atrás de si uma mesa em pantanas,
com açúcar espalhado por todo o lado, chávenas viradas, pães meios comidos,
guardanapos ensopados em leite com café e... as duas televisões no canal panda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Este último
espisódio foi o que mais me chamou a atenção pelo sentido de <i>entitlement </i>que traduz. Nunca vou
perceber o que leva a mãe do Vicente a achar que pode pura e simplesmente
chegar, fazer o barulho que lhe apetecer e <i>pedir</i> para mudar o canal da tv. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Não sei se alguém estaria atento à tv. Regra geral, gosto de ouvir as notícias matinais enquanto vou lendo as revistas de fim de semana. Parece-me que mesmo que estivesse, o tom do <i>pedido </i>da mãe, deixava pouco espaço a recusas ou ponderações.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Os sorrisos e os ‘bom dia, tudo bem?’ foram desaparecendo e deram lugar a olhares reprovadores que nas mais das vezes não surtem grande efeito para lá da vergonha
momentânea da mãe <b>ou</b> do pai. Sim, porque a trabalheira é tal que os pais vão com eles à vez tomar o pequeno almoço.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Se com o
sentimento de que </span><i style="font-family: Corbel, sans-serif;">o mundo deve
acomodar-me a mim e aos meus filhos</i><span style="font-family: "corbel" , sans-serif;"> vem uma paciência quase inaudita na mãe
do Vicente, com o pai a história é outra. O tom exasperado que inevitavelmente
aparece nos dois, chega muito mais cedo no pai.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Não sei se vos
acontece, mas ouvir o desespero na voz de alguém que notoriamente só quer tomar
o pequeno almoço (ou fazer outra coisa qualquer) em paz mas não consegue,
faz-me subir o ritmo cardíaco. Já para não falar na incapacidade latente de não
se controlar o volume da voz num espaço público, onde estão outras pessoas a
disfrutar do seu tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Ora, já lá diz o
ditado que quem não está bem, muda-se. E foi o que fiz. Já tinha começado a
procurar outros sítios onde ir, mas com a minha recente mudança de cidade por
motivos profissionais também não foi difícil. Foi apenas um bónus. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "corbel" , sans-serif;">E a pastelaria
aqui em frente à minha casa tem imensa luz, pão maravilhoso e um ambiente calmo
e tranquilo. Voltaram as horas de sossego, a disfrutar das pequenas coisas boas
que a vida tem. Perfeito!</span></div>
Gerberahttp://www.blogger.com/profile/03267665289786050978noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5385595170736776508.post-37550839257593954062016-04-15T15:37:00.000+01:002016-04-16T00:58:11.232+01:00Não quero ter filhos - Das justificações e julgamentos<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Já todas
passamos por isso. Aquele momento em que queremos responder “Ah não, eu não
quero ter filhos” e desejamos que a conversa fique por ali, sem perguntas nem
juízos de valor.<s><o:p></o:p></s></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Afinal, porque
haveríamos de justificar uma opção pessoal a alguém que erradamente assume a
sua opinião sobre a nossa vida como válida e necessária?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">No entanto, uma
pesquisa rápida no google mostra-me um mundo de páginas cheias de razões e
justificações para a falta de desejo de procriar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">As razões para
não querermos ser mães são inúmeras e cada uma terá as suas. Todas válidas,
todas exclusivas. Pensadas, ponderadas. Íntimas e pessoais. Razões essas
constantemente questionadas, desvalorizadas, julgadas. Em alta voz, em praça
pública, como convém ao mais sanguinário dos julgamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Não sei se o meu
percurso na tomada de consciência da minha decisão é semelhante ao de tantas
outras mulheres que não querem ser mães. Reconheço pelo menos duas fases: a
primeira, nos estágios iniciais da tomada de consciência, trazia as tentativas
de me justificar. Posteriormente, a ponderação: <i>afinal, porque é que as pessoas se acham no direito de fazerem
observações sobre uma decisão tão pessoal?<o:p></o:p></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Quem me conhece
sabe que não sou adepta de justificações, muito menos de deixar que se
intrometam na minha vida. Por isso muito raramente senti na pele esse
julgamento, esse questionar de convicções. Mas não deixo de me identificar com
as mulheres que sentem não poderem falar livremente sobre a sua opção. Sim,
porque se não senti na pele esse tipo de julgamento, também o devo à opção
ocasional pelo silêncio. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O tempo
permitiu-me distinguir dois tipos de intromissão: a pontual, que é efectuada em
conversa de circunstância, e o questionamento reiterado, por parte de quem
conhece a opção, com a intenção de nos fazer sentir que há algo de errado
connosco.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">A primeira, que
é a que encontro mais frequentemente, chega sob a forma de observações
inocentes e sem conteúdo subliminar. Na maior parte das vezes, feita por
pessoas pertencentes à geração dos <i>baby
boomers</i>, algumas da <i>Generation X</i>,
que têm filhos da minha idade. Por vezes pessoas da geração dos meus avós. A
estes perdoo-lhes a intromissão, sorrio e respondo que “hoje em dia é difícil”
ou que “depois logo se vê”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Não ouço
julgamento nas suas palavras, nem leio malícia nas observações. Entendo-os como
pessoas de uma geração diferente, em que a vida era outra. Salvo raras
excepções, vejo-os como pessoas felizes, que levaram (e levam) vidas felizes,
cada um à sua maneira. E como tal, entendem que a sua medida para a felicidade
será também a minha. Entendo que me desejam a mesma felicidade que encontraram
para si. A estes não vejo razão para justificações, muito menos para começar um
debate não solicitado sobre aquilo que devo fazer com o meu útero.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Se me custa
ficar calada? Sinceramente, não. Mesmo que lhes saia uma data de julgamentos
pela boca fora, o factor diferenciador aqui é que geralmente não se apercebem
de que o fazem. A segurança da decisão tomada faz-me sentir que é minha, e
estas não são as pessoas a quem devo explicações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O questionamento
reiterado, que constitui o segundo tipo, parece ter tomado proporções de
epidemia. Irónico, maledicente, muitas vezes disfarçado de bom conselho. A avaliar
pelas centenas de testemunhos online, parece ser mais frequente do que o
desejável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Escrutinando
outros tantos depoimentos dos corajosos anónimos que tecem estes julgamentos
online, não parece haver uniformidade no perfil, apesar de existirem pontos comuns.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">O que é que
transparece então? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Nota-se uma
tendência ao não questionamento. Isto é, a fórmula que lhes foi vendida como
sendo caminho único para a felicidade suprema parece nunca ter sido
questionada, ou ponderada sequer. Há muitas certezas e verdades absolutas e uma
incapacidade latente de pensar numa forma de felicidade diferente da que lhes
foi impingida, que acreditam ser a única possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Parece haver
também o sentimento de pertença a um clube exclusivo de mártires e
experienciadoras do amor supremo, facto que lhes confere uma autoridade moral
difícil de igualar. Pontualmente, transparece a pouca escolaridade, a pouca fé
nas possibilidades da vida, a resignação e, atrevo-me a dizê-lo, a pertença a
meios relativamente pequenos, talvez rurais. Não existe um perfil único, apenas
pontos comuns.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Estes são os
espécimes que na maior parte das vezes me fazem optar pelo silêncio. Quem nunca
sentiu na pele ou não conhece alguém que foi prontamente acusado de egoísmo, de
não saber o que quer, de ir morrer velho e sozinho, etc?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Tempos houve em
que este tipo de comentários, lidos ou relatados por alguém, faziam despertar
em mim o lado mais colérico e indignado. O tempo trouxe-me calma, e a noção de
que esta incapacidade de tolerância da diferença traduz uma pequenez de
espírito que não merece indignação ou resposta pronta. Se merece o silêncio?
Também acredito que não. Mas não vejo utilidade em tentar convencer os outros
das minhas convicções. Afinal, isto serve para os dois lados, certo? Então,
vejo como mais produtiva uma simples afirmação, do que uma miríade de
argumentos e justificações. Ou até, porque não, um simples sorriso, acompanhado
pelo silêncio? Cada uma terá as suas estratégias, as suas respostas prontas, as
suas formas de lidar com o julgamento e a intromissão. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "corbel" , sans-serif;">Pessoalmente,
prefiro um sorriso aberto e um simples “cada uma é feliz à sua maneira”. E
vocês? <o:p></o:p></span></div>
Gerberahttp://www.blogger.com/profile/03267665289786050978noreply@blogger.com0